


Evento - Identidades e Culturas
Realizou-se uma pesquisa acerca do tema Identidades e Culturas, dando-se um maior recorte em um evento específico de apresentação cultural e identitária DragQueen na balada BlueSpace.
A pesquisa de campo e teórica relaciona-se com o texto "Cultura popular - as construções de um conceito na produção historiográfica", de Petrônio Domingues, 'a priori' e 'a posteriori'. Isso pois, não apenas antigamente como também hoje, a cultura draqueen, que é da esfera popular, foi tida como subversiva, ou seja, vista como contra os valores normativos e morais dessa sociedade homofóbica, heteronormativa, fanática religiosa e conservadora; sendo marginalizada e repudiada principalmente pelas gerações mais anteriores, advindas de sociedades fixas.
Segundo a obra "Identidade", de Zygmunt Bauman, anteriormente à queda do muro de Berlim, em 1989, ocorria uma certa confiança em um futuro certo, que, depois, foi tomada pela incerteza. Com isso, as pessoas naturalizaram “distopias”. E, nesse ponto, entram as perspectivas negativas que o conservadorismo teria em relação às manifestações contrárias às tradicionais.
Podemos estabelecer outra comparação ainda, dessa vez, em relação ao texto de Domingues, com a fusão entre a cultura erudita e a cultura popular: na casa noturna, isso aconteceu durante a última exibição do espetáculo, quando Danny Cowlt utiliza tanto a dança popular quanto a dança de ballet clássico.
Além disso, a experiência relaciona-se com livro "A Identidade Cultural da Pós-Modernidade", de Stuart Hall, ao passo que vive-se na sociedade pós-moderna e nada ilustraria mais adequadamente o sujeito pós-moderno (fragmentado, que assume diversas identidades em diversos âmbitos sociais) do que uma pessoa que, durante o dia, veste-se como alguém do gênero masculino e, durante a noite, como alguém do gênero feminino, assumindo ambas identidades.
No trecho "(...) a identidade é realmente algo formado, ao longo do tempo, através de processos inconscientes, e não algo inato, existente na consciência no momento do nascimento" (p.33), percebe-se vínculo com o falado nas apresentações daquela noite. Ao passo que Silvetty é chamada de "irmão" durante a comemoração de seu aniversário; essa foi a parte mais impactante e importante de todo o trabalho, na medida em que houve muita emoção envolvida, os presentes no palco foram capazes de demonstrar o quanto a convivência desse grupo, que sofre tanto preconceito e injustiças, os uniu, de tal forma que puderam identificar-se como uma família. "Psicanaliticamente, nós continuamos buscando a 'identidade' e construindo biografias que tecem as diferentes partes de nossos eus divididos numa unidade" (p. 39), ou seja, fora de nossas casas, nossas famílias biológicas, ainda procura-se uma outra unidade que forme os indivíduos, com laços em comum determinados por uma série de fatores. Thalia Bombinha, quando chama Silvetty de irmão, afirma mais um ponto de Hall; no qual o autor discute sobre resistência ao falar sobre a comunidade dos não-brancos na Inglaterra (p. 86): a união das duas artistas, com outras obviamente, em uma "família" foi uma maneira de resistir à opressão de uma sociedade patriarcal heteronormativa que segrega quem se identifica de outra maneira que não a imposta por essa maioria social.
Stuart Hall fala, também, de novas relações espaço-tempo sendo definidas em eventos tão diferentes. Da mesma forma, eventos como o analisado nesse trabalho têm recebido maior atenção e proporções. Sendo a própria Bluespace, uma das mais expressivas boates na divulgação dessa cultura LGBTQ+. Bem como menciona a dissolução das fronteiras e o alargamento do campo das identidades e a proliferação e polarização nas novas posições-de-identidade, isto é, comparando com o evento da casa de shows; a diversificação das apresentações daquela noite, quando houve performances com músicas brasileiras e que são voltadas para o público gay - um aproveito da própria nacionalidade das dragqueens e reforço de suas identidades transformistas - e o uso de música americana (Come To Brazil performada pelas artistas Hidra e Musa Voncarter) mostrando uma nova modalidade e um novo conceito de show drag, sendo assim, o evento que também contou com transformistas que não se apresentaram e ainda assim se vestiam de várias formas, expondo ideias de vários países, foi um ótimo exemplo do que Hall classifica como Globalização.
Além disso, como explica Adorno em "Indústria cultural e sociedade", com meios de comunicação de massa, as informações são trasmitidas em larga escala e em curto tempo. Programas como o RuPaul's Drag Race, as aparições de Pabllo Vittar nas novelas globais, as webinfluencers drags corroboram para esse movimento globalizante que aumenta a divulgação dessa minoria.
Os panoramas futuros esperados são otimistas. Mesmo que ainda exista muita nebulosidade para com a cultura identitária LGBTQ+, é notória, uma maior aceitação - principalmente, pelos indivíduos oriundos de gerações pós-modernas. Espera-se que, com o tempo, a sociedade vá entendendo e quebrando paradigmas, para que essa comunidade - hoje ainda, marginalizada - venha ter o seu espaço livre de preconceitos e barreiras.
Bibliografia:
ADORNO, T., Indústria cultural e Sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2006.
BAUMAN, Z. Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005.
DOMINGUES, P. , Cultura popular- as construções de um conceito na produção historiográfica. Revista História (São Paulo), ago. 2011. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/his/v30n2/a19v30n2.pdf
HALL, S. Identidade Cultural na pós-modernidade. Disponível em:
Experiência do Grupo
SIRIA
As roupas das pessoas eram "normais", com exceção das DragQueens que estavam caracterizadas, indo desde a velha guarda até a modernidade. A maioria era homens gays que dançavam, bebiam alcoólicos e paqueravam. O ingresso custou R$25,00. Já durante a apresentação, onde a música parou de tocar e a apresentação começou todos voltaram sua atenção para o palco. Foi interessante poder ver o quanto os performers tratavam-se como família. Por exemplo, quando uma drag chamou a Silvetty de irmão, apesar de não possuir parentesco sanguíneo, houve também uma comemoração de aniversário da segunda drag citada, que comemorava o aniversário tanto de nascimento como pessoa quanto o nascimento como uma transformista.
LEONARDO
Ao entrar na casa noturna, a primeira coisa que reparei era que o público era predominantemente homem e mais velho que nosso grupo. Recebemos olhares a noite toda por nos diferenciarmos do público que frequenta a festa, pois estávamos em número maior de mulheres e somos mais novos que a maioria dos frequentadores. Os homens, na sua maioria, estavam usando roupas apertadas e regatas, já as mulheres estavam bem produzidas com maquiagem forte e usando bolsas. A grande maioria estava com alguma bebida na mão, cerveja era a principal escolha. Havia uma pista no meio e nas laterias os camarotes, a entrada para a festa era R$ 25,00 imagino que os camarotes fossem no mínimo o dobro. Tive a percepção de que havia um climão de flerte muito forte, as pessoas dançavam se olhando. Havia uma cultura de mostrar o corpo, ficando sem camiseta aqueles que eram mais “malhados”. As pessoas dançavam a todo momento, era difícil encontrar alguém que estava parado. A música era muito alta e soava muito repetitiva pra mim.
NATHALIA
O bairro estava um tanto deserto e tinha poucos comércios por perto. Quando encontramos a boate, era um prédio largo na esquina da rua com a fachada toda pintada de estrelas. Comemos na barraca de cachorro quente que havia na frente da boate. E depois entramos com o cupom de desconto que conseguimos na barraca. Ficamos das 21:40h até às 23:00h na pista de dança, em círculo, enquanto tocava música eletrônica e três homens musculosos dançavam no palco. Até começar as apresentações, que duraram cerca de 45 minutos. A maioria das pessoas que estavam na boate eram homens adultos, vestindo roupas da moda atual (calça jeans, regata e camisa xadrez), e pouquíssimas mulheres. Dançavam a música com relativa empolgação, alguns se beijavam, outros gravavam os dançarinos e outros tentavam conversar mesmo com a música em um volume ensurdecedor. Também era notável a quantidade de pessoas segurando uma lata de Itaipava, provavelmente por terem ganhado um vale bebida, cuja única cerveja possível era a Itaipava, levando em consideração o preço altíssimo das bebidas em que mesmo uma garrafa de água custava R$9,00. Porém, quando se iniciaram as apresentações todos se amontoaram em frente ao palco e tentaram participar o máximo possível das performances, seja aplaudindo, assoviando, gritando elogios e alguns até subiram durante um quadro.
FLAVIA
A balada divide-se em dois andares. O primeiro, que é o andar do bar, possui paredes espelhadas bem legais e um mini palco, o qual ficamos parte do tempo sentados. Já no segundo andar, fica a pista de dança e o palco das apresentações. Fiquei surpresa com a infraestrutura do local. O público em si que frequenta a Blue Space está na faixa dos 30-50 e é majoritariamente do gênero masculino. Isso fez com que nosso grupo se sentisse um pouco deslocado no local. Pelo menos, estávamos adequados ao código de vestimenta, que era um estilo mais casual. Apesar de ser uma balada com apresentações de drag queens, poucas pessoas estavam vestidas de drag. O staff em si é muito atencioso e prestativo, tornando a experiência mais agradável. Já o público estava muito animado, dançavam bastante e interagiam com as drag queens durante as apresentações. Além disso, o clima era de paquera. Particularmente achei que tocaria divas do pop, como Cher e Madonna, mas tocou apenas músicas do gênero eletrônico. Inclusive a balada possui muitas caixas de som,o que fez com que a música tocasse em um volume muito alto. Na questão das apresentações, achei que o palco fosse maior, porém era relativamente pequeno. De certa forma isso foi bom, pois conseguimos assistir as apresentações de perto. O único problema a respeito das apresentações é que terminaram muito rápido, durando cerca de 50 minutos. Isso foi um pouco decepcionante para grupo, que esperava um show mais longo.
YURI
Entramos na boate, logo observando que a área do bar estava praticamente vazia, subimos para a pista de dança, no segundo andar, a pista parecia lotada e ainda composta de uma maioria masculina, adentramos a pista de dança. A ideia de dançar perto de conhecidos me deixou muito desconfortável, especialmente por estar sóbrio, e demorei um bom tempo para me soltar um pouco, de dentro deu para observar que a pista não estava realmente lotada, só um pouco densa. A música consistia de um techno mal equalizado, com o agudo machucando os ouvidos. Algum tempo depois, surgiram homens musculosos de sunga no palco. Alguns membros do grupo desceram para o andar térreo, incluindo eu, e então percebi que estava quase surdo, prova de que o som estava mal equalizado. Às 23 h 10 min, as luzes se apagaram, as cortinas foram abertas e começou o evento principal: o "Drag show", foi bastante intenso e com teor sexual, bastante interessante e divertido. O show acabou antes da meia noite, muito mais cedo do que eu esperava, depois disso o grupo ficou sem rumo e confuso na decisão de ir embora ou não, porque já era tarde e boa parte do transporte público estava prestes a parar. Alguns membros do grupo foram para casa, mas a maioria ficou. Pude observar que havia todo tipo de homens no local, desde "Big bears"(grandes e peludos) a "Twinks"(pequenos e afeminados) e de mais velhos que pareciam ser executivos a jovens com aparência de surfistas. Acredito ter visto somente seis mulheres fora do nosso grupo, o que demonstra que o local é casa da cultura gay masculina, o que contrastou com as festas LGBT+ na rua Augusta que eu frequentava, onde geralmente há uma quantidade semelhante de indivíduos masculinos e femininos. Os membros restantes do grupo decidiram entrevistar a Drag Queen principal, que foi muito prestativa e amigável, foi uma entrevista muito interessante e iluminadora.
BIANCA DE ARAÚJO
Assim que cheguei no local, percebi que era bem diferente do que eu havia imaginado: o público era majoritariamente masculino. A vestimenta dos homens era, geralmente, camiseta baby look, calça jeans skinny e sapatênis, as mulheres estavam com roupas de lantejoulas, glitter e salto ou bota. Estavam, em boa parte, consumindo cerveja. As pessoas dançavam bastante, se flertavam. Gostei bastante da playlist e dj - tocava música eletrônica em um volume ótimo para aproveitar. Havia gogoboys, no palco, chamando a atenção do público. Ocorreram apresentações de dragqueens também. A primeira e a segunda foram uma crítica à religião cristã. A terceira foi um espetáculo de dança. Depois, iniciou-se o standup.
A entrada custou vinte e cinco reais, porém havia as de sessenta também, que eram para o camarote. Uma coisa que achei diferente das baladas héteros é que não há separação de banheiro.
BIANCA GAMA
Entramos após pagar R$25, o que não foi ruim (nem tão caro nem tão barato), analisamos a primeira parte, que estava um pouco vazia, e achamos estranho. Então vimos que haviam escadas que levavam para um segundo andar, e lá era onde estava a maior parte das pessoas. A maioria do público era homem. Não era fácil diferenciar homens gays de héteros, pois a imensa maioria das pessoas era heteronormativa em sua forma de se vestir, muitos estavam sem camisa, usando calças jeans justas. O estilo de música tocado era apenas eletrônico, e aparentemente o DJ não estava agradando tanto, pois muita gente estava parada. O clima de paquera aparentava estar bem forte, apesar de não se ver muitos “chegando” nos outros, havia uma intensa troca de olhares entre muitas pessoas. Havia uma pista geral, um camarote (que não ficava muito mais alto acima da pista comum), um mezanino (que era onde ficava o DJ e alguns convidados deste), um palco principal e dois pedestais. Por volta das 22 h 15 min, três Go-go dancers de sunga apareceram no palco principal e começaram a dançar com coreografias diferentes entre si, sem motivo ou foco. Pouco tempo depois, dois deles saíram do palco principal e foram cada um para um pedestal nas laterais da pista. Certo momento,
pedi para a drag Leona se poderia tirar uma foto com ela, pois a achei lindíssima (graças ao Leonardo, que a avistou primeiro). Por volta das 23h, começaram as apresentações das Drag Queens. A primeira teve um tom bem pesado, que misturava dor com prazer, solidão e tristeza, religião com hipocrisia. A segunda foi uma paródia e apresentação da música Come to Brasil, e a terceira já foi uma apresentação que introdução a atração principal da noite, Silvetty Montilla. Pouco depois de mais algumas apresentações, precisei ir embora.
SOBRE O BAIRRO QUE ABRIGA O EVENTO:
Um distrito da região oeste da cidade de São Paulo é a Barra Funda, esse é contido na subprefeitura da Lapa. Cortada, desde o século XIX, pelas ferrovias Santos-Jundiaí e Sorocabana, teve função industrial por muitos anos.
Os primeiros a povoarem a região foram italianos - eram trabalhadores em serrarias e oficinas mecânicas e na ferrovia. Em 1875, inaugura-se a Estação Barra Funda da Estrada de Ferro Sorocabana, funcionava como escoamento da produção de café e como armazém do porto de Santos.
Avenida Água Branca, atual Avenida Francisco Matarazzo, década de 1920. Arquivo Nacional.
Esse desenvolvimento fez com que parte da elite paulista da indústria e do café se instalasse por lá.
Com a crise de 1929, houve o fechamento de indústrias e deslocamento da elite, deixando seus casarões - que viraram cortiços. Restou, então, indústrias artesanais, oficinas, marcenarias, serrarias ou pequenas indústrias alimentícias e têxteis.


Antiga residência do escritor Mário de Andrade.
Nesta época, apesar dos entraves, a Barra Funda teve um período de grande manifestação cultural.
A migração nordestina para a região, para trabalhar na atividade industrial, iniciou-se nos anos 70.
Hoje, abriga morador, no geral, de classe média e pequenos escritórios. O Terminal Barra Funda, Memorial da América Latina, o Estádio Palestra Itália, os Centros de Treinamento do Palmeiras e do São Paulo, prédios empresariais como os da PricewaterhouseCoopers e os estúdios da RecordTV estão localizados nessa região.
Fontes: Saiba tudo sobre o bairro Barra Funda. Jornal Estadão. 2015. Disponível em <sao-paulo.estadao.com.br/bairros-sp/barra-funda>
MARCELA
Quando chegamos à estação, localizada no bairro Barra Funda, fomos andando até o local observamos um bairro muito tranquilo, só havia um bar que estava bem agitado com várias pessoas dançando. Ao nos aproximarmos vimos a balada de esquina e fiquei impressionada com o visual da entrada, como alguns estavam com fome decidimos comer lanches em um food truck da própria balada e a garçonete nos deu desconto na entrada da festa, então pagamos apenas R$25 para entrarmos. O evento começava às 20hrs e acabava às 2hrs, ao entrar na balada notei que a maioria do público era bem mais velho e homens homossexuais. O local era dividido em dois andares: o primeiro que era o bar e o segundo que era a pista de dança, no segundo andar tocava apenas música eletrônica e as pessoas não dançavam realmente ficavam apenas em passinhos básicos. Os homens se vestiam, na maioria, de calça, camiseta e tênis bem básicos, as mulheres estavam de vestido e salto mais balada. Havia muita paquera entre homens que riam e dançavam juntos. As bebidas no geral não eram caras como geralmente são em baladas, mas também não eram baratas igual ao mercado.